Leonardo e Bruna

  REVOLTA DA VACINA

Alicolau Sevcenko

1- Acompanhava esses jovens oficiais, base do movimento que culminou na proclamação da República, toda uma enorme gama de setores sociais urbanos, representada portrabalhadores do serviço público, funcionários do Estado, profissionais autônomos,pequenos empresários, bacharéis desempregados e pela vasta multidão de locatários deimóveis, arruinados e desesperados, que viam o discurso estatizante, nacionalista, trabalhistae xenófobo dos cadetes como sua tábua de salvação.
2- O argumento do governo era de que a vacinação era de inegável e imprescindível interesse para a saúde pública. E não havia como duvidar dessa afirmação, visto existirem inúmeros focos endêmicos da varíola no Brasil, o maior deles justamente na cidade do Rio de Janeiro.
3- O resultado dessa campanha frenética de agitação contra a vacinação, em termos concretos, se fez logo sentir. Enquanto, no mês de julho, cerca de 23 021 pessoas haviam procurado os postos da Saúde Pública para ser vacinadas, no mês seguinte esse número cairia para 6 036. E isso em meio ao surto fortíssimo de varíola que devastava a capital.
4- Sua importância para os amotinados provinha de a Liga significar, naquele momento de irresolução, um núcleo aglutinador de energias e decisões práticas. Os líderes da Liga perceberam isso com clareza e procuraram lançar temerariamente a multidão na ação insurrecional, por meio de discursos inflamados que pretendiam levar o movimento às últimas consequências. Mas, uma vez precipitada a avalanche, a Liga perderia completamente qualquer meio de controle sobre a revolta que ajudara a desencadear.
5- Ainda mais alarmante; naquele dia de repouso, domingo, dia 12, às 14 horas, estava literalmente tomada, pela multidão exaltada, a praça Tiradentes. Em vão, tentavam as autoridades e as patrulhas convencê-la de que deveria dispersar. É que estava anunciada para aquela hora, no gabinete do ministro da Justiça, uma reunião da comissão incumbida de assentar nas bases o regulamento da vacina obrigatória tomemos o testemunho de Sertório de Castro, jornalista encarregado de cobrir os tumultos para o Jornal do Comércio, órgão conservador e pró-governista do Rio de Janeiro. A citação talvez seja um pouco longa, mas consegue recriar a atmosfera de tensão, o impacto da força inesperada do motim e a tragédia profunda das violências, com o viço de uma testemunha participante.
6- O projeto de assalto ao poder estava sendo encabeçado pelos jacobinos e florianistas, mas ironicamente era financiado às ocultas pelos monarquistas, que haviam sido excluídos da política republicana e eram representados sobretudo pelo visconde de Ouro Preto, por Andrade Figueira, Cândido de Oliveira e Afonso Celso.


7-Naquela madrugada desastrosa o motim da praia Vermelha, já se reiniciavam, com dobrada violência, os choques sangrentos entre a turba agitada Na Gávea, o numeroso operariado das fábricas de tecidos entrava a participar ativamente do motim, entregando-se à prática de toda a sorte de depredações.Naquele mesmo dia dava o presidente conta ao Congresso das graves ocorrências, declarando em sua mensagem que eram geralmente considerados autores do movimento subversivo, que visava entregar o poder a uma ditadura militar, o senador Lauro Sodré e os deputados Alfredo Varela e Barbosa Lima.

8- Charge da época retrata Horácio José da Silva, o Prata Preta, um dos líderes da resistência popular no morro da Saúde. Estivador e jogador de capoeira, atividade então proibida por lei, ele lutou até os últimos dias da Revolta da Vacina e, segundo a imprensa da época,foram necessários cinco homens da polícia e do Exército para prendê-lo. Não se sabe que destino teve.

9- Desde a data do seu início, em 15 de novembro de 1902, o governo de Rodrigues Alves foi recebido com extrema frieza pela população do Rio de Janeiro. Ele representava inequivocamente a continuidade da administração anterior, do também paulista Campos Sales.

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