Douglas e Vitor


Revolta da Vacina
Nicolau Svencenko

1-  Rodrigues Alves viria a ser a última e decisiva peça na construção dessa hegemonia. Data de seu governo o Convênio de Taubaté (1906), que definiu as políticas da alta artificial do câmbio e de financiamento da cafeicultura com recursos federais. Essas medidas trouxeram lucros prodigiosos aos fazendeiros paulistas, ao mesmo tempo que acarretaram  o enfraquecimento e a estrangulação econômica do restante do país.


2- Mas as ruas da cidade ainda eram vielas coloniais, estreitas, tortuosas, escuras, com declives acentuadíssimos. O tráfego dos veículos que começavam a ser usados nessa atividade, como carroças, charretes e carrinhos de mão, se
embaraçava nessa rede confusa de ruelas.


3- febre amarela, febre tifoide,impaludismo, varíola, peste bubônica, tuberculose, entre outras. Destas, a febre amarela e a varíola eram as que ceifavam o maior número de vidas. A febre amarela, em particular,manifestava toda a sua violência para com estrangeiros e migrantes de outros estados. Sua fama era internacional, e tornava o Rio de Janeiro conhecido no exterior como “o túmulo dos estrangeiros”.


4- Assim, a Lauro Müller, ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas, é atribuído o encargo de reforma do porto, com poderes e recursos discricionários. A lei orçamentária de 30 de dezembro de 1902 viria, de fato, dotar o Ministério da Viação de vultosos recursos
destinados às obras de reestruturação e expansão do porto.


5- Rodrigues Alves lhe concedeu então carta branca por meio da lei de 29 de dezembro
de 1902, que criava um novo estatuto de organização municipal para o Distrito Federal. A
lei era equívoca, arbitrária e visivelmente anticonstitucional, atribuindo poderes tirânicos
ao prefeito e retirando qualquer direito de defesa à comunidade.



6- Quanto à campanha pela erradicação das endemias, os mesmos fatos se repetem.
Convidado para assumir a coordenação dos esforços de desinfecção e profilaxia da capital,
Osvaldo Cruz impõe igualmente condições severas ao presidente, conforme nos relata o
repórter do Jornal do Comércio, presente ao encontro decisivo dos dois personagens. Exige o médico: “Preciso de recursos e da mais completa independência de ação. O governo me dará tudo de que necessite, deixando-me livre na escolha de meus auxiliares, sem nenhuma interferência política”.



7- O processo de reforma urbana foi saudado com entusiasmo pela imprensa
conservadora, que a denominou de “Regeneração”. Essa era a voz dos beneficiários do
replanejamento, aqueles que herdariam, para o seu impávido desfrute, um espaço amplo,
controlado e elegante, onde antes não podiam circular senão com desconforto e
sobressalto.



8- Uma comissão nomeada pelo ministro da Justiça e do Interior em 1905, quando
estavam em curso as obras de Pereira Passos, constatou que, até aquela data, a
administração municipal e da Saúde Pública haviam demolido cerca de seiscentas
habitações coletivas e setecentas casas, privando de teto pelo menos 14 mil pessoas.
Centenas de outras famílias foram desalojadas, desde então, e não só pelas demolições
ostensivas da prefeitura ou do governo federal: a especulação com o solo, feita pelas
companhias de bondes, de serviços públicos e de loteamentos, com o patrocínio dos
poderes públicos; os novos impostos que acompanhavam o fornecimento de serviços
como iluminação elétrica, calçamentos, esgotos; as posturas municipais estabelecendo
normas arquitetônicas para as construções, proibindo o exercício de determinadas
profissões, ou a criação de animais domésticos, indispensáveis para a subsistência
alimentar das classes trabalhadoras – tudo isso atuava como poderosa força segregadora.


9- O cronista de um tabloide anarquista, O Libertário, comentava assim a inauguração da
avenida Central, que o governo consagrou com uma festa estrepitosa e monumental: “É
vicioso dizer ao operário consciente o que foi o trabalho da grande artéria: uma miserável
exploração do trabalhador inconsciente e passivo. Era de ver todas as noites, antes da
inauguração, dezenas de homens, movendo-se à luz de lâmpadas elétricas, num trabalho
fatigante até pela manhã, por um miserável e ridículo salário”.




10- Eis a narrativa do que se fez no sítio de 1904. A polícia arrepanhava a torto e a direito pessoas que encontrava na rua. Recolhia-as às delegacias, depois juntava na Polícia Central. Aí, violentamente, humilhantemente, arrebatava-lhes os cós das calças e as empurrava num grande pátio. Juntadas que fossem algumas dezenas, remetia-as à Ilha das Cobras, onde eram surradas desapiedadamente. Eis o que foi o Terror do Alves; o do Floriano foi vermelho; o do Prudente, branco, e o Alves, incolor, ou
antes, de tronco e bacalhau [chicote].


                                                                                                                                                                                                                                                                     

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