O aliado de Hitler


                                       O aliado de Hitler

    Pouco depois de ter sido forçado a renunciar, abdicando do poder em novembro de 2011, Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro da Itália que mais tempo ficou no cargo no pós-guerra, disse à imprensa que vinha dedicando seu tempo à leitura das últimas cartas escritas pelo ditador fascista Benito Mussolini, que comandara o país de 1922 a 1943, a sua amante Claretta Petacci. Na visão do ditador, a Itália era ingovernável.


Os partidos de direita que dominaram a política italiana desde o fim da

Guerra Fria rejeitaram, de forma consistente, o legado de resistência ao fascismo representado pelos democratas-cristãos e pelos comunistas, os dois partidos que dominaram a política italiana do final dos anos 1940 ao início da década de 1990. Explorando em benefício próprio a profunda frustração dos italianos com a caótica instabilidade e a corrupção do sistema político do pós-guerra, a Nova Direita baseou sua capacidade de exercer fascínio e apelo notadamente em sua alegação de que representava a lei e a ordem, a Itália para os italianos, o respeito pela Igreja Católica e seus valores, e, não menos importante, a retidão financeira e a estabilidade política. Nessa situação, as críticas públicas sérias a Mussolini tornaram-se cada vez mais raras na Itália. «Mussolini», disse Berlusconi em entrevista à revista The Spectator em setembro de 2003, «nunca matou ninguém».

Em 1992, Fini declarou que o fascismo tinha sido «parte da história da Itália e a expressão de valores permanentes». Alessandra Mussolini, a neta do ditador, atua na legislatura italiana como parte da aliança direitista de Berlusconi, depois de ter tido papel de destaque, mas reiteradamente destrutivo, na política pós-fascista. Na cidade natal de Mussolini, Predappio, lojinhas de suvenires margeiam a rua principal e vendem camisetas pretas, bandeiras e faixas fascistas, estatuetas do Duce, livros e DVDs celebrando a vida do ditador e, o mais perturbador, manganelli, tacos e cassetetes em que se liam a inscrição molti nemici, molto onore . Todo ano, nos aniversários do nascimento e morte de Mussolini e na data da marcha do ditador sobre Roma, milhares de simpatizantes, muitos deles vestindo camisas pretas ou distintivos fascistas e entoando cânticos fascistas, marcham do centro da cidade até o mausoléu onde seu corpo está enterrado.

Alemanha de hoje, políticos alemães alegando que Hitler nunca matou ninguém, a neta de Hitler sendo eleita para o parlamento, um chefe de governo alemão vendo a si mesmo nas cartas de Hitler para Eva Braun, multidões alemãs entoando slogans nazistas, ou lojinhas de suvenires vendendo bugigangas nazistas.

Entretanto, o fato de que durante a maior parte do tempo em que ocupou o poder Mussolini não perseguiu os judeus italianos, que foram encaminhados para Auschwitz apenas depois que os alemães ocuparam a Itália na esteira da queda do Duce em 1943, preservou a memória de seu regime de ter o mesmo destino que se abateu sobre sua contraparte alemã, cuja responsabilidade primordial pelo Holocausto é inegável.

EVAND, RICHARD J.Terceiro Reich - Na história e na Memória. São Paulo. Ed. Planeta do Brasil. 2018

NOME:Luan santos;Emanuel silva                                                                      turma: 9c

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