O Outro Horror

 No fim da Segunda Guerra Mundial, entre 12 milhões e 14 milhões de
alemães étnicos foram violentamente expulsos do Leste Europeu; os que já
tivessem fugido acabaram sendo impedidos de voltar para casa. Muitos
deles foram simplesmente amontoados em caminhões de gado do mesmo
tipo anteriormente usado para transportar os judeus da Europa até seu
destino nas câmaras de gás de Auschwitz e Treblinka, e despachados oeste
adentro para a Alemanha sem comida, água ou roupas adequadas de
inverno. Ao todo, meio milhão de pessoas pereceram.
  Na Conferência de Paz de Paris em 1919, contudo, a aparentemente
simples e óbvia ideia de que todas as nações deveriam ter o direito
democrático de eleger seu próprio governo naufragou nas intratáveis
realidades de padrões seculares de diversidade étnica e religiosa na Europa
Central e Oriental, e se defrontou com as exigências de segurança e
viabilidade para os novos Estados criados a partir dos escombros dos
velhos. Naturalmente os pacificadores fizeram o melhor que podiam para
incorporar ao acordo garantias de direitos das minorias, mas elas
mostraram-se impossíveis. As fronteiras históricas do
Reino da Boêmia incluíam essas pessoas, e sem elas o novo Estado não
teria atividades econômicas vitais e fronteiras defensáveis. O nacionalismo
tcheco, já bastante inflamado antes de 1914, era uma força poderosa demais
para conceder à minoria germanófona direitos iguais, embora os políticos
liberais tchecos fizessem o melhor que podiam para limitar a discriminação.
  E, quando Edvard Beneš assumiu como presidente em 1935, ouviu-se uma
nova e mais dura nota do nacionalismo tcheco, desencadeando um novo
radicalismo entre a minoria alemã, que logo se reuniu para apoiar o Partido
Alemão dos Sudetos, de Konrad Henlein. Em 1937 o partido se tornara
uma frente nazista, dedicada a subverter a integridade da república e abri-la
para a invasão e a ocupação alemãs.



EVANS, RICHARD J. Terceiro Reich - Na História e na Memória. São Paulo. Ed. Planeta do Brasil. 2018

Fabiano e Eduardo

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